segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Bílis negra - Melancolia

Melancolia, como diz Mário Quintana, é uma maneira romântica de ficar triste.

São olhos abarcando o infinito, contemplando e nada enxergando!

É uma esperança desesperada do que é posto inatingível!

Completa sensação de impotência... solidão interna...

É o viver por viver, existir por existir, só respirar.

O abandono de si mesmo, seus planos, sua vida.

Morte em vida. Desgosto de estar aqui, existir.

Esperar tudo do que não há mais a esperar.

Sem comiseração, sem ilusão, sem risos.

Definhar por não mais se amar ou ter.

Desistir. Se derrotar. Aniquilar-se.

É extinguir-se sem renovação.

Inação por não mais poder.

Esperar, ansiar o fim.

Deixar-se acabar.

Recolher-se.

Chorar....

sábado, 9 de agosto de 2008

Janela, observador e o anjo

Observo a vida passando pela janela. Vejo as faces dos transeuntes: todos levam uma marca de dor e sofrimento. Raros os que trazem um pequeno brilho de alegria nos olhos. À distância, os montes graníticos, com seus cumes cobertos de uma hiléia idílica, deixam-se abusar das nuvens lânguidas que lhes sussurram as faces com promessas úmidas.

O sol, em um vertente glorioso, no zênite de seu beneplácito, observa com ardor a precessão dos equinócios, anunciando uma primavera plena de novidades. Um ciclo se finaliza e se aproximam novos começos. O tempo, letárgico e surdo, ignora as súplicas dos derrotados.

Como Sêneca, recebendo a ordem de Nero para se matar, sento-me desditosamente e contemplo a imensidão. Se não fosse um suposto complô, o de Pisão, este filósofo estóico talvez vislumbrasse as sombras dos setenta anos. Mas seus pulsos hirtos foram a prova cabal de sua boa escola, a “Stoa” latina, da qual ele não declinou. O admiro.

E a janela não se fecha, com a vida escorrendo por entre suas frestas, num destoar do langor mórbido da tarde morna. Gente vindo e indo, passando pela vida e deixando a vida, rindo do nada e sendo felizes dos terrores alheios.

Fecho os olhos para a hedionda luz que crava minhas pupilas com uma desalmada crueldade da realidade. Procuro enxergar com o espírito para observar a eternidade da consciência. Então, por sobre os resquícios da sanidade, entrevejo o anjo, pairando por sobre a multidão, observando os passos e preparando a colheita de sua foice afiada.

Viro o rosto para não ver o rubor do sangue...

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Melancolia e desencanto: desabafo

Sem querer imputar uma visão auto-comiserável ou egoista, mas uma sincera reflexão de minhas perturbações intestinais, demônios ápteros circundando uma mente em ebulição, ávidos por mutilar toda e qualquer esperança, por mais sórdida que esta seja.

Vivo um momento horrível de desencanto e desilusão com a vida. Todos os valores me falharam. De toda a vida que vivi, nada vivi.

Não construí, não edifiquei, não venci.

E o que mais me magoa é olhar para trás e ver que caminhei por sobre a terra como um peso, um desgosto, um inválido, um fantasma, um parasita social.

A melancolia corrói bem fundo meu espírito e minh’alma anseia pela morte.

Não me sobrou mais nada, pois do tudo, até agora, nada tive.

Anos avançando e nada. Nenhuma vitória, somente momentos alegres, mas a alegria de viver me escapou. Estou titubeando à frente de tudo. Até minha juventude me foi roubada.

Me enganaram a vida inteira dizendo-me que eu iria vencer... vencer o quê?

A vida jamais me sorriu. Verdade luminosa neste pântano ébano de solidão e derrota.

Tanto conhecimento para quê?

Tantas provações. Por quê?

Me resta o consolo de que vai acabar. Mas quando?

Queria uma resposta mais clara aos meus clamores. Queria um estalar de novos planos e projetos para o futuro. Mas por quê?

Sentido é uma palavra que me escapa. Motivos é outra palavra que me desamparou.

Tanto esforço e somente o consolo da derrota. Os despojos da inglória. O sorriso escarnecedor de que não venci... fui vencido.

Meu destino será aceitar miseravelmente de que sempre fui uma promessa inacabada... um sonho que jamais se realizou.

Quando que o sonhador irá despertar e me libertar desses grilhões traiçoeiros? Desse vil cumprir do existir, somente por existir?

Por quê tanto saber se este fardo me fatiga e aniquila minhas forças? Viver em um oceano de ignorância e de seres expectantes de algo que somente a ilusão de suas vãs vidinhas, entremeadas de estúpidas intrigas, lhes satisfazem.

Como eu os invejo!

Lhes foi ocultado de que, apesar de pensarem imortais, são nada mais do que esterco da terra que os há de comer. São ignorantes de que a parcela que lhes foi destinada é a mesma ofertada ao rebanho que é imolado no matadouro.

Pelo menos tenho a visão correta de meu horizonte e a percepção sensata de meu destino. Não me ufano da vida, mas busco minha exata posição nesse palco idiota.

sábado, 2 de agosto de 2008

Labirinto: palavras e desencontros

Quero escrever, mas não consigo... acho que é uma overdose de assuntos, imagens, sentimentos, passados, microalegrias e macrodecepções, um devanear espasmódico...

Me alinho junto ao teclado e reflito sobre o que me agita... mas são tantas agitações que o burburinho de meus pensamentos me atordoam. Claro que gostaria de descrever cada sentimento que me atravessa, mas o desejo só fica nesse ímpeto irrealizado. E as palavras não vêem.

Então altero o lay-out da página e começo a discorrer sobre... sobre o quê mesmo? Estou meio perdido, ou meio achado, sei lá. Alguém viu parte de mim por aí?

Talvez o desleixo por minhas próprias vontades e o desapego a tudo e qualquer coisa, a não ser... é mas este “a não ser” prefiro guardar para mim mesmo.

Tudo se torna um tanto transparente e muito óbvio para mim, de forma que me parece tudo irreal e ao mesmo tempo tão corriqueiro. Talvez se eu pudesse esperar pela noite e Mr. Sandman jogar aquela areinha em meus olhos e me entorpecer de sono e sonhos, só que não posso... Então jogo as palavras pelo papel como um louco esparge tinta em uma tela e se torna um gênio surrealista. O louco, não eu.

Vou tentar outra vez amanhã. Quem sabe um pequeno vestígio de sanidade me sobra e sussurra algumas verdades? Ou segredos? Ou, melhor ainda, um insight?

Amanhã vou tentar escrever algo e espalhar as palavras de forma coerente, acho.