sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

O caminho e a saudade

Nem sempre o acaso nos traz surpresas desagradáveis. Certo dia, no serviço, tive que retornar um dinheiro ao meu patrão e senti que havia algo a mais no meu bolso além das retorcidas notas: era um poema.
Não um daqueles poemas de poetas imorredouros, mas um poeminha meu, feito em um banco de bar, embalado pela boemia etilizada de alcoófilos filósofos.
Era uma disputa de quem, naquele momento, poderia fazer um poema sobre uma saudade.
Todos fizeram os seus e os lemos, etilizados diante de uma platéia embevecida pelas palavras imbrutalizadas e dissonantes da realidade de um bar.
Guardei o meu no bolso da calça e, obviamente, a amnésia alcoólica o deixou no ostracismo até achá-lo na trivialidade do acaso acima contado.
Não é lá grandes coisas, mas marca um passado de dor que o tempo anestesiou.

Caminhos

O caminho de meu coração

Você o conhece. É rima fácil.

Consumiu. Gostou. Não foi em vão.

O fez delícia sua. O tornou volátil.

 

Dos destroços que sobraram

Daquilo que foi felicidade,

Da esperança, malditos pedaços restaram

E a amarga e vaga saudade.

 

Habitas meus pesadelos de amor,

Dos quais exausto fujo.

As lembranças me torturam em dor.

Imundo me sinto, todo sujo.

 

Então, meus caminhos acabam

Quando morre minha solidão.

Firme estou, apesar que meus pés vacilam.

Mas continuo. Persigo o sonho com sofreguidão.

Momentos tristes que agora são hilários, contado por um coração já em avançado processo de cicatrização. Espero que tenham gostado.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Poesia em branco

Durante os anos em que morei na cidade de Cachoeiro de Itapemirim – ES, sempre acordei bem cedo, pois gostava de começar logo de manhã no serviço. Eu caminhava à beira do rio Itapemirim e ficava embevecido com a revoada das garças, seguindo o curso do rio até seus campos de alimentação. Eram branquinhas e me inspiravam a liberdade de se viver.

À noitinha, quando eu retornava, ficava admirado com o rumo de suas silhuetas brancas procurando seu ninhal para passarem a noite. Era como eu buscando meu ninho, meu refúgio das incertezas da vida.

Abaixo segue um texto de JB Alencastro que achei no Recanto das Letras. Achei muito apropriado.

 

“Garça”

No finalzinho da tarde eu vejo a revoada. Aqueles pescoços compridos todos encolhidos. Estão indo para o ninhal. O vôo é lindo, tranqüilo, sem alvoroço. Daqui de baixo o bico é amarelo e longo, parece um punhal de tão fino. As aves são o que comem. Cada bico tem uma função e uma forma. As penas são brancas e as patas pretinhas. Ela é enorme, talvez um metro. É uma garça.

Poesia voando. Poesia planando. Poesia pescando. No alto do bambuzal foram feitos os ninhos das grandes. Fica a uns oito metros do chão. Na metade do caminho moram as pequenas. A diferença é que o bico da pequena é preto e ela é a metade da outra. No ninho feito de gravetos mais ou menos arrumados, ficam uns 3-6 ovos claros. Por favor, me entendam, as grandes são de uma espécie e as pequenas são de outra.

Existem muitos tipos de garças, e tem até cidade com nome dela. São lindas, gosto das duas que falei acima e também da vaqueira. Aquela que come carrapato do boi, mas essa não mora na água e nem faz ninho nas árvores. Ela é africana, importada, chegou no Brasil quando ele nasceu, em 63. A diferença é o peito amarelo. Garça de verdade é toda branca, noivinha.

Garças fêmea e machos se enfeitam no período do acasalamento, pluminhas fofas aparecem no peito e nas costas. Fazem um penacho no pescoço e na cauda também. Chamam-se egretas, essas penas. Deu-me pena saber que muita gente caçou essas meninas só para tirar os enfeites. Maldade da grossa.

Mesmo morando no lodo e pescando peixinho elas estão sempre limpinhas. É que tem uma substância, um pozinho azul, que elas passam nas plumas. O dedo do meio do pé é especial para isso, existem umas serrinhas em forma de pente. Elas não mergulham e nem filtram água. Só fincam.

Fincada de garça é igual flechada no coração. Não tem erro não. E se a voz delas é um cacarejo meio grosso, meio duro, é só fita. Elas são dóceis e belas. Na cidade em que ele nasceu tem um clube chamado Jaó, elas se juntam lá para dormir. Centenas delas, uma alvura total.

Eu quando durmo sonho sempre. Ninguém consegue adivinhar os sonhos e nem impedi-los, né? Acho que a vida inteira vou dormir no branco e sonhar colorido. Igual garça que voa no azul e desce no verde para deitar.

JB Alencastro

sábado, 15 de novembro de 2008

Questionando um sentimento

Quando estava saindo da ingenuidade da infância e adentrando os sinuosos caminhos da adolescência, gostava de ir a bailinhos tipo “festa americana” que fazíamos. Isso no final da década de 1970. Os hits mais tocados eram dos Bee Gees, devido ao estrondoso sucesso de “Os embalos de sábado à noite” com John Travolta e seus requebros. Tudo começava com umas músicas bem agitadas, tipo “Disco Inferno” e a galerinha ia se requebrando e relaxando para a fase seguinte da festa: a “música lenta”... Nessa hora, quando o som desligava e ficávamos uns 15 minutos parados, conversando, instintivamente os meninos iam para um lado do salão e as meninas para o outro. Parecia um jogo.

Aí começava a “música lenta”.

Os meninos iam, um-a-um, para o lado em que as meninas se encontravam e perguntavam se ela queria dançar aquela música com ele. Caso ela aceitasse, podia até rolar um selinho no final do baile. Caso contrário, o menino colocava o rabo entre as pernas e voltava, geralmente com as mãos para trás e um radiante sorriso amarelo no rosto, para o grupinho dos rejeitados. Lembro disso perfeitamente, pois levava muito “carão” naquela época. Mas tive meus momentos de glória também.

Uma “música lenta” daquela época que me marcou muito, pois foi com ela que dei o primeiro beijo de minha vida na menina mais linda da cidade na época (hoje em dia tem muito mais meninas lindas em minha cidade), foi “How deep is your love” dos Bee Gees.

Mando abaixo a letra com uma tradução bem livre para se entrar no clima romântico da época.

 

HOW DEEP IS YOUR LOVE ?

Quão profundo é o teu amor ?

 

I KNOW YOUR EYES IN THE MORNING SUN

Eu conheço seus olhos na manhã ensolarada

I FEEL YOU TOUCH ME IN THE POURING RAIN

Eu sinto você me tocar durante a chuva caindo

AND THE MOMENT THAT YOU WANDER FAR FROM ME

E no momento em que você se afasta de mim

I WANNA FEEL YOU IN MY ARMS AGAIN

Eu quero sentir você nos meus braços novamente

 

THEN YOU COME TO ME ON A SUMMER BREEZE

Então você chega para mim numa brisa de verão

KEEP ME WARM IN YOUR LOVE

Me mantêm aquecido em seu amor

THEN YOU SOFTLY LEAVE

Então você suavemente se vai

AND IT'S ME YOU NEED TO SHOW

E é para mim que você precisa mostrar

 

HOW DEEP IS YOUR LOVE

Quão profundo é o seu amor

HOW DEEP IS YOUR LOVE

Quão profundo é o seu amor

HOW DEEP IS YOUR LOVE

Quão profundo é o seu amor

I REALLY MEAN TO LEARN

Eu realmente pretendo aprender

 

'CAUSE WE'RE LIVING IN A WORLD OF FOOLS

Porque nós vivemos num mundo de tolos

BREAKING US DOWN

Que ficam nos aborrecendo

WHEN THEY ALL SHOULD LET US BE

Quando todos eles deveriam nos deixar em paz

WE BELONG TO YOU AND ME

Nós pertencemos um ao outro

 

I BELIEVE IN YOU

Eu acredito em você

YOU KNOW THE DOOR TO MY VERY SOUL

Você conhece o caminho para o meu verdadeiro ser

YOU'RE THE LIGHT IN MY DEEPEST DARKEST HOUR

Você é a luz nas minhas horas mais negras e profundas

YOU'RE MY SAVIOR WHEN I FALL

Você é o meu amparo quando eu caio

AND YOU MAY NOT THINK I CARE FOR YOU

E você pode não achar que eu me preocupe com você

WHEN YOU KNOW DOWN INSIDE THAT I REALLY DO

Quando você sabe profundamente que eu realmente me preocupo

AND IT'S ME YOU NEED TO SHOW

E é para mim que você precisa mostrar

HOW DEEP IS YOUR LOVE

Quão profundo é o teu amor.

 

Sei que a letra é bem romântica e a sensação de nostalgia imensa.

Vou te convidar a fazer um jogo...

Feche seus olhos e faça de conta que você esteja cantando essa música para a pessoa que mais ama, realmente querendo saber a profundidade do amor dela por você. Agora, pense que a pessoa que você mais ama esteja cantando essa música para você, querendo sinceramente saber a intensidade do seu amor por ela... entre pessoas que se amam é lindo demais.

Agora te proponho um desafio: pense em você cantando essa música para a pessoa mais especial do Universo – Jesus (sou cristão, não posso mentir – meus amigos mulçumanos que me perdoem, mas já imaginou cantar isso para Maomé?).

E o contrário, pense em Jesus, Criador, Rei e Senhor do Universo cantando essa música para você.

A coisa mudou de figura, né?

Mas te digo, com veemência e insofismável sinceridade: nenhuma letra romântica, por mais romântica que seja, vai poder descrever a intensidade, a profundidade, a verdade do amor que Jesus tem por você. E por mim também.

sábado, 25 de outubro de 2008

O pesadelo e o sonho

Vivemos em um meio um tanto surreal! Sonhamos com todos os aspectos de felicidades (para nós, é claro) nos quais nossa vida pode se realizar e deixamo-nos levar pela solícita impressão de que seremos ou realizaremos aqueles sonhos!

Qualquer desvencilhar de nossos sonhos são chamados pesadelos. Aqueles momentos em que a “força” parece nublar e há uma falha em nossas perspectivas. Uma quebra dos céus sem nuvens no qual vivemos. Um desvirtuar momentâneo de nossas expectativas e planos. Um vago e indelével sentimento de impotência frente ao desabar de nossos desejos. É o amargo pesadelo!!! O desconforto maldito de não realizações. De tarefas irrealizadas e vontades banalmente quebradas. De desvio inatural da realidade factível para um quarto obscuro e sombrio de imprevisões. Ele se manifesta!!!

E qual mortal que se diz imune aos pesadelos? Aos contratempos de suas vidas e sonhos??! De um amargo remorso de algo feito e não mais recuperável?

São esses pesadelos que permeiam nossas vidas e nos moldam. Nos fazem zumbis de uma felicidade inóspita onde o convencional reflete o necessário e bendito fim, mas o fim nos vassala com seu destempero e amargor. Das certezas desses carbonos estelares que nos formam, uma é a etérea finitude e outra o intrínseco sofrer. Nascemos com o sorriso estampado da derrota e nos vemos no fulgor das lágrimas esculpidas, famigerando por faces ambíguas, devoradas por futuros inconclusos. Permeamos vastos oceanos de dor, martírio de momentos infindados e amores inacabados. Somos prisioneiros de nossos pesadelos, os quais nos são caros e dolorosos, incorruptíveis e eternos. Álea jacta est! E perdemos feio!

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Réquiem do observador

Me desapego a tudo, mas me comove o mundo. São espasmos de violência e descaso com cada um de nós que as palavras me vêem aos borbotões, incoerentes, dominando o silêncio em minha estupefação.

As imagens são fortes e não há mais lirismo nelas... apenas observo, absorto.

Me parece que o peso etéreo do tempo sobre meus ombros não me concedeu sabedoria para captar o que ocorre à minha volta. Então, tento de uma forma carnívora, destrinchar às garfadas essa tela lúgubre que me assalta os sentidos: não mudou o mundo. O homem mudou, e para pior!

O imolar incessante de vidas alheias, que são exatamente isso: vidas alheias! Não nos atinge mais o impacto da revolta e da repudia. Estamos, realmente, nos conformando à nossa natureza animal e nos distanciando do divino.

Me atrevo a observar, e, como observador, isolar-me dos fatos.

Vejo jovens degolados e uma audiência sombria de desprezo pela vida perdida. Jovens atrelados às suas posses, alienados pelo que possuem, dividindo a crueza de sua inveja aos que ainda não têm. Olhos soberbos de ganância e mentes infladas de desejos obscenos, obscuros. Vejo sombras e o umbral se fechando sobre essas vidas, prometendo um fim escarlate de adrenalina e brevidade.

A quem deixar meu réquiem? A quem entregar o périplo incircunciso da curiosidade inata? A quem deixar o mundo, se do mundo nada mais resta?

Sento-me sobre a rocha e observo o langor do tempo perpassar pelas vidas indolentes.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Retorno ao desterro

É, estou de volta à estrada. Passei mais de um mês sem postar... interessante! Foi quase uma hemi-morte (existe isso?). Mas li bastante! Tem tanta coisa nova para se discutir e analisar...

Por exemplo o novo advertising de uma famosa marca de cerveja brasileira que está passando na TV. 120 anos!!! Puxa, que bacana!

Dizem que é a nossa cara!

É, realmente temos cara de "bebum". Alcoólatras inveterados.

Quantas vidas que foram pra “vala” por causa dessa cerveja?

Quantas famílias destruídas, por causa dessa cerveja?

Quantos jovens alienados, por causa dessa cerveja?

Quantas vidas ceifadas, por causa dessa cerveja?

É, realmente essa cerveja faz parte de nossas vidas e histórias, como tantas outras.

Também li sobre eventos futuros: adoro teorias de conspiração.

Li que o mundo vai acabar e tem data específica: 21/12/2012 – solstício de verão – sábado.

Até estão dizendo que os Estados Unidos estão produzindo caixões em massa para o evento. Campos de concentração e tal!

Não sei se vou esperar até lá.

Mas quem quiser, vou postar alguma coisa sobre o tal evento, incluindo os links para as informações dos caixões e dos campos de concentração.

A net está me deixando cada dia mais inteligente!

Deve existir inteligência, ainda, no cyberespaço. Acho...

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Bílis negra - Melancolia

Melancolia, como diz Mário Quintana, é uma maneira romântica de ficar triste.

São olhos abarcando o infinito, contemplando e nada enxergando!

É uma esperança desesperada do que é posto inatingível!

Completa sensação de impotência... solidão interna...

É o viver por viver, existir por existir, só respirar.

O abandono de si mesmo, seus planos, sua vida.

Morte em vida. Desgosto de estar aqui, existir.

Esperar tudo do que não há mais a esperar.

Sem comiseração, sem ilusão, sem risos.

Definhar por não mais se amar ou ter.

Desistir. Se derrotar. Aniquilar-se.

É extinguir-se sem renovação.

Inação por não mais poder.

Esperar, ansiar o fim.

Deixar-se acabar.

Recolher-se.

Chorar....