quinta-feira, 17 de julho de 2008

Disparando a flecha

A flecha segue incólume desconhecendo os ventos diáfanos que lhe opõem o caminho, entrincheirando-se cruelmente no alvo que lhe foi concedido. Me ensinaram que três coisas jamais voltavam atrás: sentença proferida, flecha atirada e palavra dita. No caminho sinuoso da vida acabei por descobrir que dessas três verdades, a mais cruel era a palavra, pois da sentença recorre-se e da flecha se esquiva, mas a palavra sempre atinge seu objetivo. Descobri que após dizer algo, mentir, ferir, difamar, caçoar, escarnecer, ou qualquer um dos impropérios vocálicos que nós humanos aprendemos com a vida e todas as imprecações verborrágicas que adquirimos, não há nada dito, feito, vivido, corrigido que possa tornar atrás as implicações que a palavra produz, todas as feridas que abre e todas as maldades que expõe. Por mais que nos desculpemos e demonstremos nossa constrição e arrependimento, nada apaga ou ameniza o estrago que uma palavra mal colocada ou impropério colocado de forma errada faz. Carrego em meus ombros muitos pesares e erros que cometi. Todos os vacilos que foram se acumulando nessa parca e insólita vida que me foi concedida. Mas de todos os pecados que cometi e me arrependi, o que mais atrozmente me dilacera e atormenta são as palavras que falei inadequadamente, pois saíram de dentro de mim, de meu coração e atingiram pessoas que amava. Se me fosse concedido voltar atrás em qualquer coisa que eu desejasse, desfazendo assim erros cometidos, escolheria voltar atrás as palavras que disse equivocadamente, amenizando meu fardo de sofrimento. As palavras têm poder. Seus efeitos duram a eternidade e nos confrontam no infinito. Gostaria de ter nascido mudo a ter pronunciado algumas das mais infames palavras que minha língua desditosa produziu. No seguir desse caminho sinuoso, espero controlar com mais cuidado esse aguilhão que espreita minha boca, e silenciar seu veneno, que atinge o alvo dos corações que mais amo.

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