sexta-feira, 25 de julho de 2008

O mais íntimo sentimento

Enquanto encaramos a realidade, tentamos enxergar detalhes que a vida nos oculta.

Um casal, por demais enamorado, viveu intensa e longamente, por anos, uma relação ardente, de confiança mútua e cumplicidade. Porém, o jovem, em um ímpeto não pensado, resolveu terminar abruptamente a relação, desalinhando as retas do futuro mútuo, deixando sua companheira da aventura chamada vida, sem norte.

Ele mesmo não tinha desculpas para seu ato, preferindo sufocar, como se esgana uma ave, o amor que a outra nutria por ele, desvencilhando das tentativas de sua amada de uma aproximação, imputando a ela a culpa pelo fracasso dele mesmo.

Os anos passaram, e a jovem mantinha acesa uma esperança de, pelo menos, voltar a vê-lo, conversar com seu amado, escutar sua verdade e razões, aliviar sua intensa dor. Porém, o rapaz mantinha-se impassível, estóico em sua decisão e acabou-se envolvendo com outra.

Sua amada morreu em vida.

Gerações se passaram, e, no entardecer da vida de ambos, veio ela primeiro a encontrar-se com seu destino. O agora ancião, tomou conhecimento do fato e, por fim, conseguiu exprimir palavras referindo-se à antiga relação: foi a mulher de minha vida! Sofri e ela sofreu! Mas permaneci fiel ao que decidi.

Desse frágil e pálido sonho que chamamos vida, sabemos que duas coisas são inevitáveis: a morte e o sofrimento.

A morte por ser a parcela que nos cabe, mas o sofrimento é o fruto de nossas próprias mãos e ações.

E ainda mais vil, o sofrimento, aquele imposto com decisões e atos praticados em favor de nossa suposta alegria e felicidade, que são efêmeros momentos, em detrimento de uma vida de outrem de amargura, desprezo, ressentimento e lágrimas, do que não nos importamos e nem queremos tomar conhecimento.

Assim, na mais solitária das horas, olhando-nos no espelho, nos enxergamos ordinários demônios de nós mesmos, criadores do sofrimento alheio.

Mas, nos braços de Morfeu, o sonho continua...

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